Modelo de resenha crítica. A obra resenhada é CULTURA BRASILEIRA E IDENTIDADE NACIONAL.
RESENHA CRÍTICA
ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional.
5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
1 CREDENCIAIS DO AUTOR
Nasceu em Ribeirão Preto (SP) em
1947. Estudou na Escola Politécnica (USP) entre 1966 e 1969. Formou-se em
Sociologia e Antropologia pela Universidade de Paris VIII e doutorou-se em
Sociologia e Antropologia pela École des Hautes Études em Sciences Sociales.
Foi professor da Universidade de
Louvain (1974-1975), da UFMG (1977-1984) e do Programa de Pós-Graduação em
Ciências Sociais da PUC-SP (1985-1988). Foi pesquisador do Latin American
Institute da universidade de Columbia e do Kellog Institute da Universidade de
Notre Dame, além de professor visitante da Escuela de Antropologia, no México.
Publicou vários artigos sobre
religiosidade popular, cultura brasileira e cultura popular em diferentes
revistas, entre elas: Religião e Sociedade, Cadernos de Opinião, Cadernos de
CERU, Archives dês Sciences Sociales de Religions e Diogénes. É autor dos
livros A Consciência Fragmentada (Paz e Terra), Pierre Bourdieu (Ática),
Telenovela: História e Produção (Brasiliense), em coautoria com José Mário
Ortiz e Silva S. Borelli, A Morte Branca do Feiticeiro Negro (Brasiliense) e A
Moderna Tradição Brasileira (Brasiliense).
2 RESUMO DA OBRA
Na introdução o autor fala que o tema
da cultura brasileira e da identidade nacional é um antigo debate que se trava
no Brasil. No entanto, este debate permanece atual até hoje, constituindo uma
espécie de subsolo estrutural que alimenta toda a discussão em torno do que é o
nacional.
No primeiro capítulo o Ortiz terce
algumas reflexões em torno da relação entre questão racial e identidade
brasileira. Ele toma como objeto de estudo alguns autores, como Sílvio Romero,
Nina Rodrigues e Euclides da Cunha. Para ele o dilema dos intelectuais desta
época é compreender a defasagem entre teoria e realidade, o que se
consubstancia na construção de uma identidade nacional. Sendo que este
pensamento brasileiro da época encontra tais argumentos em duas noções particulares:
o meio e a raça.
Na realidade, meio e raça se
constituíram em categorias do conhecimento que definiam o quadro interpretativo
da realidade brasileira. Para ele ser brasileiro significa viver em um país
geograficamente diferente da Europa, povoado por uma raça distinta da europeia.
Meio e raça traduzem, portanto, dois elementos imprescindíveis para a
construção de uma identidade brasileira: o nacional e o popular.
A problemática da mestiçagem é na
realidade retomar a metáfora do cadinho, isto é, do Brasil enquanto espaço da
miscigenação. Neste momento torna-se corrente a afirmação de que o Brasil se
constituiu através da fusão de três raças fundamentais: o branco, o negro e o
índio. O quadro de interpretação social atribuída, porém à raça branca uma
posição de superioridade na construção da civilização brasileira. Associa-se,
dessa forma, a questão racional ao quadro mais abrangente do progresso da
humanidade. Dentro desta perspectiva, o negro e o índio se apresentam como
entraves ao processo civilizatório.
Uma
primeira conclusão se impõe. No momento em que as teorias raciológicas entram
em declínio na Europa, elas se apresentam como hegemônicas no Brasil. A virada
do século é ainda um momento de indecisão, o que faz com que os intelectuais
das classes dominantes reproduzam, em níveis diferenciados, uma exigência
histórica que transparece claramente no interior do discurso ideológico
elaborado.
Além disso, no segundo capítulo o
autor vai fazer referência a Florestan Fernandes, ao tratar da questão racial
no Brasil, este afirmava que o brasileiro tem o preconceito de não ter
preconceito. Ele vai dizer que os primeiros estudos sobre o negro somente se
iniciarão com Nina Rodrigues, já na última década do século, mas sob a
inspiração das teorias raciológicas. Neste capítulo o autor vai usar uma
perspectiva diferente sendo esta a corrente de pensamento de Gilberto Freyre.
O mito da mestiçagem é ambíguo
porque existem dificuldades concretas que impedem sua plena realização. A
sociedade brasileira passa por um período de transição, o que significa que as
teorias raciológicas, quando aplicadas ao Brasil, permitem aos intelectuais
interpretar a realidade, mas não modificá-la.
Já no terceiro capítulo Ortiz vai
continuar sua análise a partir da corrente de pensamento dos intelectuais de
ISEB. Estes ao construírem uma teoria do Brasil, retomam a temática da cultura
brasileira, mas vão imprimir novos rumos à discussão. Os isebianos analisam a
questão cultural dentro de um quadro filosófico e sociológico, dizendo que a
cultura significa as objetivações do espírito humano. Apesar de ter forte
influência na cultura popular o ISEB se insinua em duas áreas que são palco
permanente de debate sobre a cultura brasileira: o teatro e o cinema.
Outro ponto que é abordado pelo ISEB
e por Fanon são os conceitos de alienação de situação colonial dentro de uma
perspectiva política que aponta para a superação da dominação colonialista.
Além disso, o conceito de nacional será inflexionado em direções diferentes.
Para Fanon a nação não é somente uma realidade sociológica, o Estado argelino,
mas sobretudo uma utopia. Já os intelectuais do ISEB falam a partir de outra
realidade política. A nação brasileira não é algo que se encontra situado no
futuro, pelo contrário, a existência de uma sociedade civil atesta que ela é
uma realidade presente mas que não se encontra ainda plenamente desenvolvida.
Não há utopia, a realização do Ser nacional era para eles uma questão de tempo,
cabia à burguesia progressista comandar esse processo.
O quarto capítulo será usado pelo
autor para abordar um aspecto particular do debate sobre a cultura brasileira,
ou seja, a temática da cultura popular e para isso usará a ação do Centro
Popular de Cultura, que funcionou durante esse período junto à sede da União
Nacional dos Estudantes, na Guanabara. Além disso, afirma que apesar de algumas
considerações contrárias, a concepção conservadora da cultura popular dominou
grande parte da literatura folclórica brasileira; ela será, entretanto
fundamentalmente questionada com a emergência dos Centros Populares de Cultura.
De forma mais sucinta, Ferreira Gullar compreende a “cultura popular” como a
“tomada de consciência da realidade brasileira”.
Para o CPC, a análise da realidade
social se articula fundamentalmente através da categoria da alienação; este
conceito se encontra disseminado ao longo dos estudantes da UNE, e no livro de
Ferreira Gullar, mas foi particularmente desenvolvido em sua aplicação à
“cultura popular” por Carlos Estevam.
Um importante aspecto da ideologia é
a questão do nacionalismo; trata-se evidentemente de uma problemática que
domina a época na qual se desenvolvem as atividades dos centros de cultura
popular. O autor entende que o nacionalismo das novas produções brasileiras,
das manifestações folclóricas, do turismo é neste sentido puramente simbólico,
mas ele recupera uma identidade nacional que se encontra harmoniosamente fixada
no nível do imaginário.
No quinto capítulo Renato Ortiz vai
trabalhar as relações entre o Estado autoritário e a cultura, afirmando ele que
estas relações são antigas no Brasil. Ele vai dizer que o crescimento da classe
média, a concentração da população em grandes centros urbanos vão permitir
ainda a criação de um espaço cultural onde os bens simbólicos passam a ser consumidos
por um público cada vez maior. A pesar disso, ele fala que a distribuição e a
criação dos produtos culturais reproduz as contradições do próprio modelo
capitalista brasileiro, que acentua a diferença entre as regiões e reforça a
divisão de trabalho entre cidade e campo.
Ainda nesse aspecto ele fala que o
movimento cultural pós-64 se caracteriza por dois momentos que não são na
verdade contraditórios; por um lado ele é um período da história onde mais são
produzidos e difundidos os bens culturais, por outro ele se define por uma
repressão ideológica e política intensa. Além disso, ele vai falar que o
processo de hegemonização, que teria necessariamente de ser analisado sob o
ângulo daqueles que recebem os bens culturais, se concentra nos centros urbanos.
Não obstante, ele parece se delinear como uma orientação futura do
desenvolvimento do capitalismo brasileiro, daí a importância em analisar as
linhas e tendências de sua evolução.
No último capítulo o autor vai
finalizar com um paralelo entre Estado, cultura popular e identidade nacional.
Logo no inicio ele vai dizer que a relação entre a temática do popular e do
nacional é uma constante na história da cultura brasileira, a ponto de um autor
como Nelson Werneck Sodré afirmar que só nacional o que é popular. Ainda afirma
que em diferentes épocas, e sob diferentes aspectos, a problemática da cultura
popular se vincula à da identidade nacional.
Ortiz ainda vai dizer que identidade
nacional e cultura popular se associam ainda aos movimentos políticos e intelectuais
nos anos 50 e 60 e que se propõem redefinir a problemática brasileira em termos
de oposição ao colonialismo. Com isso ele afirma que a luta contra o
colonialismo é simultaneamente nacional e popular.
Ao continuar a discussão ele vai
dizer que a cultura popular é heterogênea, as diferentes manifestações
folclóricas – reisados, congadas, folias de reais – não partilham um mesmo
traço em comum, tampouco se inserem o interior de um sistema único. A cultura
popular é plural, e seria talvez mais adequado falarmos em culturas populares.
Ainda nesse contexto o autor vai falar
que a memória coletiva é da ordem da vivência, a memória nacional se refere a
uma história que transcende os sujeitos e não se concretiza imediatamente no
seu cotidiano. Além disso, a memória coletiva se aproxima do mito, e se
manifesta portanto ritualmente. Já a memória nacional é da ordem da ideologia,
ela é o produto de uma história social, não da ritualização da tradição.
Contudo a memória nacional necessita de mediadores que são os intelectuais,
pois são eles que descolam as manifestações culturais de sua esfera particular
e as articulam a uma totalidade que as transcende.
Concluindo o capítulo Ortiz vai falar
sobre os movimentos populares onde ele vai dizer que estes não coincidem com as
expressões populares. Na realidade eles agem como filtro, privilegiando alguns
aspectos da cultura mas esquecendo outros.
3 CONCLUSÕES DO AUTOR
Renato Ortiz não evidencia uma síntese
da sua obra, estando sempre concluindo seu pensamento. Sendo assim, neste livro
“Cultura Brasileira e Identidade Nacional”, não se encontra explícita uma
conclusão da mesma.
Todas as concepções evidenciadas
mostram claramente, que a identidade nacional esta profundamente ligada a uma
reinterpretação do popular pelos grupos sociais e pela própria construção do
Estado brasileiro. Além disso, mostra que a não existe apenas uma identidade
autêntica, mas uma pluralidade de identidades, construídas por diferentes
grupos sociais em diferentes momentos históricos.
4 CRÍTICA DA RESENHISTA
Embora tenha um estilo repetitivo na
apresentação de suas ideias e possua um estilo próprio de expor seu pensamento
acerca do tema, na obra o autor fornece subsídios à pesquisa científica, à
medida que trata o problema em questão embasado nos principais atores e
protagonistas do processo de construção da cultura e identidade brasileira,
sempre tratando o assunto de forma realista.
Porém, isto não interfere na
compreensão da ideia central da obra resenhada, em virtude de estar relacionada
ao cotidiano e à prática de todos os autores citados.
É um livro que contribui para o
processo de aprendizagem de vários acadêmicos dos cursos na área das ciências
humanas, pois a obra de Renato Ortiz ajuda a melhor compreender a cultura e a
identidade do país.
5 INDICAÇÃO DA
RESENHISTA
Por ser uma obra que envolve os
pensamentos de diversos autores de grande prestigio no Brasil, esta obra se
destina a todos quantos queiram aprofundar-se na temática da cultura brasileira
e identidade nacional.
Destina-se principalmente, a
professores e acadêmicos do curso de história, se estendendo para todos os
cursos na área de humanas, em especial.
Ana Kercy Farias de Oliveira. Aluna do
curso de Serviço Social da Universidade Federal do Piauí.