quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

RESENHA CRÍTICA

Modelo de resenha crítica. A obra resenhada é CULTURA BRASILEIRA E IDENTIDADE NACIONAL.


RESENHA CRÍTICA

ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

1 CREDENCIAIS DO AUTOR
            Nasceu em Ribeirão Preto (SP) em 1947. Estudou na Escola Politécnica (USP) entre 1966 e 1969. Formou-se em Sociologia e Antropologia pela Universidade de Paris VIII e doutorou-se em Sociologia e Antropologia pela École des Hautes Études em Sciences Sociales.
            Foi professor da Universidade de Louvain (1974-1975), da UFMG (1977-1984) e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC-SP (1985-1988). Foi pesquisador do Latin American Institute da universidade de Columbia e do Kellog Institute da Universidade de Notre Dame, além de professor visitante da Escuela de Antropologia, no México.
            Publicou vários artigos sobre religiosidade popular, cultura brasileira e cultura popular em diferentes revistas, entre elas: Religião e Sociedade, Cadernos de Opinião, Cadernos de CERU, Archives dês Sciences Sociales de Religions e Diogénes. É autor dos livros A Consciência Fragmentada (Paz e Terra), Pierre Bourdieu (Ática), Telenovela: História e Produção (Brasiliense), em coautoria com José Mário Ortiz e Silva S. Borelli, A Morte Branca do Feiticeiro Negro (Brasiliense) e A Moderna Tradição Brasileira (Brasiliense).

2 RESUMO DA OBRA
Na introdução o autor fala que o tema da cultura brasileira e da identidade nacional é um antigo debate que se trava no Brasil. No entanto, este debate permanece atual até hoje, constituindo uma espécie de subsolo estrutural que alimenta toda a discussão em torno do que é o nacional.
No primeiro capítulo o Ortiz terce algumas reflexões em torno da relação entre questão racial e identidade brasileira. Ele toma como objeto de estudo alguns autores, como Sílvio Romero, Nina Rodrigues e Euclides da Cunha. Para ele o dilema dos intelectuais desta época é compreender a defasagem entre teoria e realidade, o que se consubstancia na construção de uma identidade nacional. Sendo que este pensamento brasileiro da época encontra tais argumentos em duas noções particulares: o meio e a raça.
            Na realidade, meio e raça se constituíram em categorias do conhecimento que definiam o quadro interpretativo da realidade brasileira. Para ele ser brasileiro significa viver em um país geograficamente diferente da Europa, povoado por uma raça distinta da europeia. Meio e raça traduzem, portanto, dois elementos imprescindíveis para a construção de uma identidade brasileira: o nacional e o popular.
            A problemática da mestiçagem é na realidade retomar a metáfora do cadinho, isto é, do Brasil enquanto espaço da miscigenação. Neste momento torna-se corrente a afirmação de que o Brasil se constituiu através da fusão de três raças fundamentais: o branco, o negro e o índio. O quadro de interpretação social atribuída, porém à raça branca uma posição de superioridade na construção da civilização brasileira. Associa-se, dessa forma, a questão racional ao quadro mais abrangente do progresso da humanidade. Dentro desta perspectiva, o negro e o índio se apresentam como entraves ao processo civilizatório.
            Uma primeira conclusão se impõe. No momento em que as teorias raciológicas entram em declínio na Europa, elas se apresentam como hegemônicas no Brasil. A virada do século é ainda um momento de indecisão, o que faz com que os intelectuais das classes dominantes reproduzam, em níveis diferenciados, uma exigência histórica que transparece claramente no interior do discurso ideológico elaborado.
            Além disso, no segundo capítulo o autor vai fazer referência a Florestan Fernandes, ao tratar da questão racial no Brasil, este afirmava que o brasileiro tem o preconceito de não ter preconceito. Ele vai dizer que os primeiros estudos sobre o negro somente se iniciarão com Nina Rodrigues, já na última década do século, mas sob a inspiração das teorias raciológicas. Neste capítulo o autor vai usar uma perspectiva diferente sendo esta a corrente de pensamento de Gilberto Freyre.
            O mito da mestiçagem é ambíguo porque existem dificuldades concretas que impedem sua plena realização. A sociedade brasileira passa por um período de transição, o que significa que as teorias raciológicas, quando aplicadas ao Brasil, permitem aos intelectuais interpretar a realidade, mas não modificá-la.
            Já no terceiro capítulo Ortiz vai continuar sua análise a partir da corrente de pensamento dos intelectuais de ISEB. Estes ao construírem uma teoria do Brasil, retomam a temática da cultura brasileira, mas vão imprimir novos rumos à discussão. Os isebianos analisam a questão cultural dentro de um quadro filosófico e sociológico, dizendo que a cultura significa as objetivações do espírito humano. Apesar de ter forte influência na cultura popular o ISEB se insinua em duas áreas que são palco permanente de debate sobre a cultura brasileira: o teatro e o cinema.
            Outro ponto que é abordado pelo ISEB e por Fanon são os conceitos de alienação de situação colonial dentro de uma perspectiva política que aponta para a superação da dominação colonialista. Além disso, o conceito de nacional será inflexionado em direções diferentes. Para Fanon a nação não é somente uma realidade sociológica, o Estado argelino, mas sobretudo uma utopia. Já os intelectuais do ISEB falam a partir de outra realidade política. A nação brasileira não é algo que se encontra situado no futuro, pelo contrário, a existência de uma sociedade civil atesta que ela é uma realidade presente mas que não se encontra ainda plenamente desenvolvida. Não há utopia, a realização do Ser nacional era para eles uma questão de tempo, cabia à burguesia progressista comandar esse processo.
            O quarto capítulo será usado pelo autor para abordar um aspecto particular do debate sobre a cultura brasileira, ou seja, a temática da cultura popular e para isso usará a ação do Centro Popular de Cultura, que funcionou durante esse período junto à sede da União Nacional dos Estudantes, na Guanabara. Além disso, afirma que apesar de algumas considerações contrárias, a concepção conservadora da cultura popular dominou grande parte da literatura folclórica brasileira; ela será, entretanto fundamentalmente questionada com a emergência dos Centros Populares de Cultura. De forma mais sucinta, Ferreira Gullar compreende a “cultura popular” como a “tomada de consciência da realidade brasileira”.
            Para o CPC, a análise da realidade social se articula fundamentalmente através da categoria da alienação; este conceito se encontra disseminado ao longo dos estudantes da UNE, e no livro de Ferreira Gullar, mas foi particularmente desenvolvido em sua aplicação à “cultura popular” por Carlos Estevam.
            Um importante aspecto da ideologia é a questão do nacionalismo; trata-se evidentemente de uma problemática que domina a época na qual se desenvolvem as atividades dos centros de cultura popular. O autor entende que o nacionalismo das novas produções brasileiras, das manifestações folclóricas, do turismo é neste sentido puramente simbólico, mas ele recupera uma identidade nacional que se encontra harmoniosamente fixada no nível do imaginário.
            No quinto capítulo Renato Ortiz vai trabalhar as relações entre o Estado autoritário e a cultura, afirmando ele que estas relações são antigas no Brasil. Ele vai dizer que o crescimento da classe média, a concentração da população em grandes centros urbanos vão permitir ainda a criação de um espaço cultural onde os bens simbólicos passam a ser consumidos por um público cada vez maior. A pesar disso, ele fala que a distribuição e a criação dos produtos culturais reproduz as contradições do próprio modelo capitalista brasileiro, que acentua a diferença entre as regiões e reforça a divisão de trabalho entre cidade e campo.       
            Ainda nesse aspecto ele fala que o movimento cultural pós-64 se caracteriza por dois momentos que não são na verdade contraditórios; por um lado ele é um período da história onde mais são produzidos e difundidos os bens culturais, por outro ele se define por uma repressão ideológica e política intensa. Além disso, ele vai falar que o processo de hegemonização, que teria necessariamente de ser analisado sob o ângulo daqueles que recebem os bens culturais, se concentra nos centros urbanos. Não obstante, ele parece se delinear como uma orientação futura do desenvolvimento do capitalismo brasileiro, daí a importância em analisar as linhas e tendências de sua evolução.
            No último capítulo o autor vai finalizar com um paralelo entre Estado, cultura popular e identidade nacional. Logo no inicio ele vai dizer que a relação entre a temática do popular e do nacional é uma constante na história da cultura brasileira, a ponto de um autor como Nelson Werneck Sodré afirmar que só nacional o que é popular. Ainda afirma que em diferentes épocas, e sob diferentes aspectos, a problemática da cultura popular se vincula à da identidade nacional.
            Ortiz ainda vai dizer que identidade nacional e cultura popular se associam ainda aos movimentos políticos e intelectuais nos anos 50 e 60 e que se propõem redefinir a problemática brasileira em termos de oposição ao colonialismo. Com isso ele afirma que a luta contra o colonialismo é simultaneamente nacional e popular.
            Ao continuar a discussão ele vai dizer que a cultura popular é heterogênea, as diferentes manifestações folclóricas – reisados, congadas, folias de reais – não partilham um mesmo traço em comum, tampouco se inserem o interior de um sistema único. A cultura popular é plural, e seria talvez mais adequado falarmos em culturas populares.
Ainda nesse contexto o autor vai falar que a memória coletiva é da ordem da vivência, a memória nacional se refere a uma história que transcende os sujeitos e não se concretiza imediatamente no seu cotidiano. Além disso, a memória coletiva se aproxima do mito, e se manifesta portanto ritualmente. Já a memória nacional é da ordem da ideologia, ela é o produto de uma história social, não da ritualização da tradição. Contudo a memória nacional necessita de mediadores que são os intelectuais, pois são eles que descolam as manifestações culturais de sua esfera particular e as articulam a uma totalidade que as transcende.
Concluindo o capítulo Ortiz vai falar sobre os movimentos populares onde ele vai dizer que estes não coincidem com as expressões populares. Na realidade eles agem como filtro, privilegiando alguns aspectos da cultura mas esquecendo outros.

3 CONCLUSÕES  DO AUTOR
Renato Ortiz não evidencia uma síntese da sua obra, estando sempre concluindo seu pensamento. Sendo assim, neste livro “Cultura Brasileira e Identidade Nacional”, não se encontra explícita uma conclusão da mesma.
Todas as concepções evidenciadas mostram claramente, que a identidade nacional esta profundamente ligada a uma reinterpretação do popular pelos grupos sociais e pela própria construção do Estado brasileiro. Além disso, mostra que a não existe apenas uma identidade autêntica, mas uma pluralidade de identidades, construídas por diferentes grupos sociais em diferentes momentos históricos.

4 CRÍTICA DA RESENHISTA
Embora tenha um estilo repetitivo na apresentação de suas ideias e possua um estilo próprio de expor seu pensamento acerca do tema, na obra o autor fornece subsídios à pesquisa científica, à medida que trata o problema em questão embasado nos principais atores e protagonistas do processo de construção da cultura e identidade brasileira, sempre tratando o assunto de forma realista.
Porém, isto não interfere na compreensão da ideia central da obra resenhada, em virtude de estar relacionada ao cotidiano e à prática de todos os autores citados.
É um livro que contribui para o processo de aprendizagem de vários acadêmicos dos cursos na área das ciências humanas, pois a obra de Renato Ortiz ajuda a melhor compreender a cultura e a identidade do país.

5 INDICAÇÃO DA RESENHISTA
            Por ser uma obra que envolve os pensamentos de diversos autores de grande prestigio no Brasil, esta obra se destina a todos quantos queiram aprofundar-se na temática da cultura brasileira e identidade nacional.
            Destina-se principalmente, a professores e acadêmicos do curso de história, se estendendo para todos os cursos na área de humanas, em especial.


Ana Kercy Farias de Oliveira. Aluna do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Piauí.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Declaração de amor ao Curso de Serviço Social!




Um GRANDE exemplo!

Trabalho científico! uma ajuda a vc estudante do curso de Serviço Social

TRABALHO DE INTRODUÇÃO AO SERVIÇO SOCIAL: RESPOSTA AS PERGUNTAS, COMO SURGIU O SERVIÇO SOCIAL NA EUROPA E COMO ELE SURGIU NA AMERICA LATINA?



COMO SURGIU O SERVIÇO SOCIAL NA EUROPA?
            Antes de adentrarmos em como se deu o surgimento do Serviço Social na Europa, torna-se importante notar que este enquanto profissão nasce diretamente ligado com a “questão social” como nas palavras de José Paulo Netto:
não há dúvidas em relacionar o aparecimento do Serviço Social com as mazelas próprias à ordem burguesa, com as seqüelas necessárias dos processos que comparecem na constituição e no envolver do capitalismo, em especial aqueles concernentes ao binômio industrialização/urbanização, tal como este se revelou no curso do século XIX. (NETTO, 1992, p.13).
           
É a partir dessa contextualidade histórico-social que se torna possível o surgimento do Serviço Social como profissão logo no seu início seguindo “protoformas” assistencialistas e filantrópicas.
            No contexto histórico, a Europa vivia a luta de classes trazida pelo capitalismo a partir da relação capital-trabalho. Lutas essas que aconteceram por diversos aspectos entre eles estão à drástica ruptura entre o camponês e a terra (através de aparelhos legais) que levava o camponês para a indústria.  A realidade capitalista era posta e imposta ao trabalhador, que não tinha garantia de quase nada. O capitalismo monopolista trouxe consigo potencialidas às contradições já existentes e novas contradições e antagonismos. Sendo que seu objetivo segundo Netto (1992, p. 16) é “o acréscimo dos lucros capitalistas através do controle dos mercados”. Com isso o monopólio faz aumentar o exército industrial de reserva.
            Ainda nesse âmbito, o aparelho estatal, ou seja, o Estado vem para garantir a reprodução do capital na garantia da conservação, reprodução e manutenção da força de trabalho que era ameaça pela superexploração. Neste Estado burguês a função da política social se expressa nos processos que se referem à preservação e ao controle da força de trabalho. Assim o peso dessas políticas torna-se visível tendo o sentido de assegurar as condições adequadas ao desenvolvimento monopolista.
            A partir disso começam vários movimentos dos trabalhadores eurocidentais que traziam varias preocupações a burguesia, pois estes movimentos abalavam as estruturas postas por esta. Sua maior preocupação no final da primeira metade do século XIX segundo MARTINELLI (1989, p.51) “era criar formas alternativas que permitissem ajustar aos interesses do capital tanto os movimentos dos trabalhadores, como a expansão dos problemas sociais.” Surge uma busca da burguesia por racionalizar a prática social que entendemos melhor nas palavras de MARTINELLI:
Racionalizar a assistência nessa fase final da primeira metade do século XIX, quando a Europa era uma vasta república burguesa após as derrotas dos trabalhadores significava transformá-la em um instrumento auxiliar do processo de consolidação do modo de produção capitalista, em uma ilusão necessária à eterna reprodução das relações capitalistas de produção. (MARTINELLI, 1989, p. 54)

            Assim a prática social era submetida às vontades da burguesia, sendo que aquela era uma “força repressora gerada no interior das forças produtivas”.
            Além disso, forma-se uma união entre Burguesia, Igreja e Estado com o intuito de coibir as manifestações dos trabalhadores eurocidentais, impedir suas práticas de classe e abafar sua expressão política e social. Como resultado dessa união foi o surgimento da Sociedade de Organização da Caridade em Londres, em 1869 que era composta de pessoas responsáveis pela racionalização e normatização da prática da assistência.
Assim surgem os primeiros assistentes sociais que eram executores da prática da assistência social. É uma profissão que nasce ligada com o projeto hegemônico do poder burguês. Era uma prática humanitária sancionada pelo Estado e protegida pela Igreja com uma ilusão de servir.
            Com isso podemos adentrar na emergência do Serviço Social que surge como resultante de um processo cumulativo partindo da organização filantrópica e sua culminação na gradual, incorporado parâmetros teórico-científicos e no afinamento de um instrumental operativo técnico. Assim pode-se ver a relação que existe entre o surgimento da sociedade burguesa com o do Serviço Social relação esta muito complexa, pois de um lado tendo o pensamento conservador e do outro, ações caritativas e tendo como instituição que desempenha o papel crucial por estar nos dois âmbitos a Igreja católica.
            Nessa lógica os profissionais começaram a buscar uma ruptura que de acordo com NETTO (1992, p. 68) se “revela no fato de, pouco a pouco, os agentes começarem a desempenhar papéis executivos em projetos de intervenção”. Assim vê-se que as ações interventivas na sua dinâmica, organização, recursos e objetivos vão para além do seu controle. Nesse sentido o profissional de Serviço Social tem que buscar uma ruptura com as protoformas existentes buscando um espaço determinado na divisão social do trabalho.
            A profissionalização do Serviço Social segundo Netto (1992, p. 69-70), “não se relaciona decisivamente à ‘evolução da ajuda’, à ‘racionalização da filantropia’ nem à ‘organização da caridade’; vincula-se à dinâmica da ordem monopólica.” O Serviço Social é inseparável da ordem monopolista, pois esta cria e funda a profissionalidade daquela. Sendo estes profissionais agentes em dois âmbitos: o da sua formulação e o da sua implementação, assim, ele torna-se um dos agentes executores das políticas sociais.
            A constituição do mercado de trabalho para o assistente social através das políticas sociais (do Estado burguês) é que possibilita a compreensão da continuidade e ruptura na profissionalização do Serviço Social. De um lado a ação pautada no pensamento conservador que aportava elementos para compatibilizar as perspectivas “pública” e “privada” e de outro lado a função estratégica de dimanar os mecanismos da ordem monopólica de forma a controlar a força de trabalho. Em ambas havia intervenção e representação envolvidas no meio de agencias externas ao Estado e que promoviam políticas sociais próprias, ou seja, privadas.
            Nesse sentido, o Serviço Social surge como profissão no intuito de reforçar os mecanismos de poder econômico, político e ideológico que visa subordinar a classe trabalhadora à classe dominante para que aquela se mantenha sem uma organização e independência. No entanto à medida que sua profissionalização se afirma, os assistentes sociais tornam-se permeáveis a outros projetos sócio-políticos podendo assim rebater suas próprias práticas anteriores.

COMO SURGIU O SERVIÇO SOCIAL NA AMÉRICA LATINA?
             A partir da formação das escolas de Serviço Social nos países: Chile, Brasil e Peru temos um panorama de como se dá a formação do Serviço Social na América Latina.
             Analisando o contexto histórico em que emergiu o Serviço Social no Chile. A partir dos anos vinte surgem novos grupos sociais no país devido às mudanças na economia do mesmo, o movimento operário foi o que mais se destacou na sociedade chilena, estes movimentos eram influenciados pelas idéias socialistas e anarco-sindicalistas. Uma figura política que se destacou foi Arturo Alessandri que em seu governo teve que equilibrar-se entre conservadores e o movimento popular. Nesse mesmo período a classe operária conquistou o Código do Trabalho que através deste deu-se o direito do protesto operário.
            É nesse contexto que se dá a origem da primeira escola de Serviço Social fundada por Alejandro Del Rio, sendo que esta escola era ligada a ação do Estado e contendo o intuito de formar profissionais que dessem apoio ao trabalho médico.
            Além disso, pode-se perceber que a Igreja não estava ausente no processo de constituição do Serviço Social, pois era através desta que em tempos anteriores a assistência (caridade) era feita. Com isso vê-se que apesar da escola católica ser a segunda formada no Chile, ela possuía um histórico na assistência social. O nome da primeira escola católica chilena era Escola Elvira Matte de Cruchaga que tinha o objetivo segundo Castro de:
 criar um centro católico ortodoxo para a formação de agentes sociais adequados às mudanças sofridas pela sociedade chilena, buscando responder aos estímulos concretos e práticos que lhe impunham a luta de classes, assim como a uma estratégia de continentalização da influência católica na criação de escolas de Serviço Social. (CASTRO, 1984, p.65-66)

Essa escola teve influência continental em países como Uruguai, Peru e Brasil. Foi fundada por Miguel Cruchaga Tocornal, esta escola consolida-se nos interesses globais da Igreja católica, pois buscava recuperar seu papel de condutora moral da sociedade e exercer a função de promotora internacional do Serviço Social. A Igreja buscava agora sanar os novos problemas não mais aqueles ligados a vítimas de peste nem tão pouco aos semi-libertos, mas sim a questão social que emergia na sociedade. Com isso ela se distanciava da primeira escola criada no país, pois esta estava ligada a profissão médica enquanto que a Elvira Matte de Cruchaga se preocupava com a questão social. Observa-se ainda que nesse período a profissão era vista mais que uma mera profissão, mas como uma vocação.
A seleção das alunas desta escola era extremamente rigorosa, o curso tinha duração de três anos alternando-se entre teoria e prática. Aqui cabe observar que apesar do curso não ser totalmente voltado para a área da saúde, ele tinha uma tendência a assistência enquanto saúde, pois as primeiras ações sociais estavam ligadas a saúde como, por exemplo, a higiene. Isso ocorria não somente no Chile, mas em outros países da América Latina como Brasil e Peru. Outro campo de atuação importante eram as práticas no Escritório que ajudou no reconhecimento do papel mediador do Estado para normativizar as relações entre o capital e o trabalhador. Por fim, pode-se perceber a grande influência que a escola de Serviço Social chilena teve sobre o continente, pois foram através de suas protoformas que se desenvolveram escolas de Serviço Social em outros países.
No Brasil assim como em quase todos os outros países o surgimento da profissão está ligada no interior do movimento de classes sociais, pelas mudanças no Estado e pela estratégia desenvolvida pela Igreja Católica. Nesse país a Igreja manteve uma forte influência na formação dos primeiros profissionais da assistência que entre outras escolas criou o CEAS (Centro de Estudos e Ação Social) sendo que este foi criado com o real objetivo de fazer retornar a Igreja sua influência e seus privilégios, buscando também tornar mais eficiente à atuação de tais profissionais. O CEAS foi considerado nas palavras de CASTRO:
como o vestíbulo da profissionalização do Serviço Social no Brasil  (...) o trabalho de organização e preparação dos leigos se apóia numa base social feminina de origem burguesa respaldada por assistentes sociais belgas, que ofereceram sua experiência para possibilitar a fundação da primeira escola católica de Serviço Social. (CASTRO, 1984, p. 96)

Pouco tempo depois foi criado a Escola de Serviço Social de São Paulo também ligada a Igreja católica inspirada especialmente pela Ação Católica e pela Ação Social. As funções dos assistentes sociais nesse período junto às famílias operárias eram segundo CASTRO (1984, p. 99) “em face do matrimônio, educação e do cuidado dos filhos, da destinação do salário, dos menores delinqüentes, da segurança social dos enfermos – tratava-se de uma atividade para reformar e melhorar costumes.” Outro fato importante de se observar é que por as jovens assistentes estarem diretamente ligadas aos poderosos isso possibilitava a elas dar uma maior ajuda aos “necessitados” da assistência.
Num curto espaço de tempo surge o Instituto de Educação Familiar e Social, formado por duas escolas: uma de Serviço Social e a outra de Educação Familiar. A fundação das escolas foi patrocinada pelo Grupo de Ação Social, pela Escola de Enfermagem Ana Nery e pelo Juizado de Menores. Assim, pode-se perceber que houve também uma forte influência da saúde na assistência.
Ainda nesse contexto havia uma atitude que vinculava o trabalho dos leigos aos preceitos da encíclica e é sob essa inspiração que emerge no Rio de Janeiro a primeira escola católica de educação superior para o Serviço Social que em conjunto com São Paulo serviram de inspiração para surgirem outras por todo o país. Segundo Manrique nos dois países (Chile e Brasil) apesar das diferenças:
o Serviço Social surge como resposta à questão social e, em particular, à presença do movimento operário e popular, estimulados por contingentes que desenvolviam uma ativa prática de apostolado católico, provenientes das classes dominantes. E nos dois casos, igualmente, o surgimento do Serviço Social recebe o auxílio de mãos belgas. (CASTRO, 1984, p. 102-103)

            No Peru houve mudanças que marcaram para sempre sua história. Em 1937, pela Lei nº 8530, foi criada a Escola de Serviço Social do Peru, no regime de Benavides. A criação desta escola não é similar a de outros países, pois segundo CASTRO (1984, p.110) “não se insere num processo de modernização capitalista liderado por burguesias combativas que se aliam com segmentos populares, polarizando a mobilização antioligárquica.” Assim a escola de Serviço Social no Peru nasce sobre uma base burguesa em pleno processo de configuração. Ela surge quase que ao mesmo tempo e vinculada ao Ministério da Saúde Pública, Trabalho e Previsão Social. No entanto segundo CASTRO (1984, p. 112) “a ESSP não foi propriamente a primeira escola de Serviço Social.”
            A profissão nos seus primeiros anos estava ligada a saúde com a qual colaborava no combate das deploráveis condições de salubridade pública. Nas palavras de CASTRO (1984, p. 119) pode-se visualizar como era composta essa escola: “um seleto contingente de alunas, educadas nos ‘melhores’ colégios de Lima, com sólida formação católica, vocacionadas para servir ao próximo e ansiosas para colocar em prática as suas convicções morais e atuar no meio popular.” Sua tarefa era contribuir para formar uma consciência que fosse passivo as diferenças de classe como resultado de uma ordem natural, controlando assim, a influência de idéias ameaçadoras para a religião e o Estado. Nesta escola assim como em Elvira Matte Cruchaga no Chile, a assistência era mais uma vocação que uma profissão.
            Podem-se concluir os seguintes aspectos que o Serviço Social enquanto profissão nasce ligada a Igreja e a questão social, exceto no caso do Peru que só depois toma essa perspectiva. No geral o Serviço Social encontrou dificuldades de sair das suas protoformas primárias, mas com o avanço da profissão puderam reformular e inovar em protoformas que atendessem as novas necessidades postas na sociedade.


TRABALHO ESCRITO POR ANA KERCY FARIAS, COM BASE NAS SEGUINTES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CASTRO, Manuel Manrique. História do Serviço Social na América Latina. Tradução de Jóse Paulo Netto e Balkys Villalobos. São Paulo: Cortez, 1984. p 61-125.

MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço Social: identidade e alienação. São Paulo: Cortez, 1989. p 44-58.

NETTO, José Paulo. Capitalismo Monopolista e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1992. p 13-77.