TRABALHO DE INTRODUÇÃO AO SERVIÇO SOCIAL: RESPOSTA AS PERGUNTAS, COMO SURGIU O SERVIÇO SOCIAL NA EUROPA E COMO ELE SURGIU NA AMERICA LATINA?
COMO
SURGIU O SERVIÇO SOCIAL NA EUROPA?
Antes
de adentrarmos em como se deu o surgimento do Serviço Social na Europa,
torna-se importante notar que este enquanto profissão nasce diretamente ligado
com a “questão social” como nas palavras de José Paulo Netto:
não há dúvidas em relacionar o
aparecimento do Serviço Social com as mazelas próprias à ordem burguesa, com as
seqüelas necessárias dos processos que comparecem na constituição e no envolver
do capitalismo, em especial aqueles concernentes ao binômio
industrialização/urbanização, tal como este se revelou no curso do século XIX.
(NETTO, 1992, p.13).
É a partir dessa
contextualidade histórico-social que se torna possível o surgimento do Serviço
Social como profissão logo no seu início seguindo “protoformas”
assistencialistas e filantrópicas.
No
contexto histórico, a Europa vivia a luta de classes trazida pelo capitalismo a
partir da relação capital-trabalho. Lutas essas que aconteceram por diversos
aspectos entre eles estão à drástica ruptura entre o camponês e a terra
(através de aparelhos legais) que levava o camponês para a indústria. A realidade capitalista era posta e imposta ao
trabalhador, que não tinha garantia de quase nada. O capitalismo monopolista
trouxe consigo potencialidas às contradições já existentes e novas contradições
e antagonismos. Sendo que seu objetivo segundo Netto (1992, p. 16) é “o
acréscimo dos lucros capitalistas através do controle dos mercados”. Com isso o
monopólio faz aumentar o exército industrial de reserva.
Ainda
nesse âmbito, o aparelho estatal, ou seja, o Estado vem para garantir a
reprodução do capital na garantia da conservação, reprodução e manutenção da
força de trabalho que era ameaça pela superexploração. Neste Estado burguês a
função da política social se expressa nos processos que se referem à
preservação e ao controle da força de trabalho. Assim o peso dessas políticas
torna-se visível tendo o sentido de assegurar as condições adequadas ao
desenvolvimento monopolista.
A
partir disso começam vários movimentos dos trabalhadores eurocidentais que
traziam varias preocupações a burguesia, pois estes movimentos abalavam as
estruturas postas por esta. Sua maior preocupação no final da primeira metade do
século XIX segundo MARTINELLI (1989, p.51) “era criar formas alternativas que
permitissem ajustar aos interesses do capital tanto os movimentos dos
trabalhadores, como a expansão dos problemas sociais.” Surge uma busca da
burguesia por racionalizar a prática social que entendemos melhor nas palavras
de MARTINELLI:
Racionalizar a assistência nessa
fase final da primeira metade do século XIX, quando a Europa era uma vasta
república burguesa após as derrotas dos trabalhadores significava transformá-la
em um instrumento auxiliar do processo de consolidação do modo de produção
capitalista, em uma ilusão necessária à eterna reprodução das relações
capitalistas de produção. (MARTINELLI, 1989, p. 54)
Assim
a prática social era submetida às vontades da burguesia, sendo que aquela era
uma “força repressora gerada no interior das forças produtivas”.
Além
disso, forma-se uma união entre Burguesia, Igreja e Estado com o intuito de
coibir as manifestações dos trabalhadores eurocidentais, impedir suas práticas
de classe e abafar sua expressão política e social. Como resultado dessa união
foi o surgimento da Sociedade de Organização da Caridade em Londres, em 1869
que era composta de pessoas responsáveis pela racionalização e normatização da
prática da assistência.
Assim surgem os
primeiros assistentes sociais que eram executores da prática da assistência
social. É uma profissão que nasce ligada com o projeto hegemônico do poder
burguês. Era uma prática humanitária sancionada pelo Estado e protegida pela
Igreja com uma ilusão de servir.
Com
isso podemos adentrar na emergência do Serviço Social que surge como resultante
de um processo cumulativo partindo da organização filantrópica e sua culminação
na gradual, incorporado parâmetros teórico-científicos e no afinamento de um
instrumental operativo técnico. Assim pode-se ver a relação que existe entre o
surgimento da sociedade burguesa com o do Serviço Social relação esta muito
complexa, pois de um lado tendo o pensamento conservador e do outro, ações
caritativas e tendo como instituição que desempenha o papel crucial por estar
nos dois âmbitos a Igreja católica.
Nessa
lógica os profissionais começaram a buscar uma ruptura que de acordo com NETTO
(1992, p. 68) se “revela no fato de, pouco a pouco, os agentes começarem a
desempenhar papéis executivos em projetos de intervenção”. Assim vê-se que as
ações interventivas na sua dinâmica, organização, recursos e objetivos vão para
além do seu controle. Nesse sentido o profissional de Serviço Social tem que
buscar uma ruptura com as protoformas existentes buscando um espaço determinado
na divisão social do trabalho.
A
profissionalização do Serviço Social segundo Netto (1992, p. 69-70), “não se
relaciona decisivamente à ‘evolução da ajuda’, à ‘racionalização da
filantropia’ nem à ‘organização da caridade’; vincula-se à dinâmica da ordem
monopólica.” O Serviço Social é inseparável da ordem monopolista, pois esta
cria e funda a profissionalidade daquela. Sendo estes profissionais agentes em
dois âmbitos: o da sua formulação e o da sua implementação, assim, ele torna-se
um dos agentes executores das políticas sociais.
A
constituição do mercado de trabalho para o assistente social através das
políticas sociais (do Estado burguês) é que possibilita a compreensão da
continuidade e ruptura na profissionalização do Serviço Social. De um lado a
ação pautada no pensamento conservador que aportava elementos para
compatibilizar as perspectivas “pública” e “privada” e de outro lado a função
estratégica de dimanar os mecanismos da ordem monopólica de forma a controlar a
força de trabalho. Em ambas havia intervenção e representação envolvidas no
meio de agencias externas ao Estado e que promoviam políticas sociais próprias,
ou seja, privadas.
Nesse
sentido, o Serviço Social surge como profissão no intuito de reforçar os
mecanismos de poder econômico, político e ideológico que visa subordinar a
classe trabalhadora à classe dominante para que aquela se mantenha sem uma
organização e independência. No entanto à medida que sua profissionalização se
afirma, os assistentes sociais tornam-se permeáveis a outros projetos
sócio-políticos podendo assim rebater suas próprias práticas anteriores.
COMO
SURGIU O SERVIÇO SOCIAL NA AMÉRICA LATINA?
A partir da formação das escolas de Serviço
Social nos países: Chile, Brasil e Peru temos um panorama de como se dá a
formação do Serviço Social na América Latina.
Analisando o contexto histórico em que emergiu
o Serviço Social no Chile. A partir dos anos vinte surgem novos grupos sociais
no país devido às mudanças na economia do mesmo, o movimento operário foi o que
mais se destacou na sociedade chilena, estes movimentos eram influenciados
pelas idéias socialistas e anarco-sindicalistas. Uma figura política que se
destacou foi Arturo Alessandri que em seu governo teve que equilibrar-se entre
conservadores e o movimento popular. Nesse mesmo período a classe operária
conquistou o Código do Trabalho que através deste deu-se o direito do protesto
operário.
É
nesse contexto que se dá a origem da primeira escola de Serviço Social fundada
por Alejandro Del Rio, sendo que esta escola era ligada a ação do Estado e
contendo o intuito de formar profissionais que dessem apoio ao trabalho médico.
Além
disso, pode-se perceber que a Igreja não estava ausente no processo de
constituição do Serviço Social, pois era através desta que em tempos anteriores
a assistência (caridade) era feita. Com isso vê-se que apesar da escola
católica ser a segunda formada no Chile, ela possuía um histórico na
assistência social. O nome da primeira escola católica chilena era Escola
Elvira Matte de Cruchaga que tinha o objetivo segundo Castro de:
criar um centro católico ortodoxo para a
formação de agentes sociais adequados às mudanças sofridas pela sociedade
chilena, buscando responder aos estímulos concretos e práticos que lhe impunham
a luta de classes, assim como a uma estratégia de continentalização da
influência católica na criação de escolas de Serviço Social. (CASTRO, 1984, p.65-66)
Essa escola teve influência
continental em países como Uruguai, Peru e Brasil. Foi fundada por Miguel
Cruchaga Tocornal, esta escola consolida-se nos interesses globais da Igreja
católica, pois buscava recuperar seu papel de condutora moral da sociedade e
exercer a função de promotora internacional do Serviço Social. A Igreja buscava
agora sanar os novos problemas não mais aqueles ligados a vítimas de peste nem
tão pouco aos semi-libertos, mas sim a questão social que emergia na sociedade.
Com isso ela se distanciava da primeira escola criada no país, pois esta estava
ligada a profissão médica enquanto que a Elvira Matte de Cruchaga se preocupava
com a questão social. Observa-se ainda que nesse período a profissão era vista
mais que uma mera profissão, mas como uma vocação.
A seleção das alunas desta
escola era extremamente rigorosa, o curso tinha duração de três anos
alternando-se entre teoria e prática. Aqui cabe observar que apesar do curso
não ser totalmente voltado para a área da saúde, ele tinha uma tendência a
assistência enquanto saúde, pois as primeiras ações sociais estavam ligadas a
saúde como, por exemplo, a higiene. Isso ocorria não somente no Chile, mas em
outros países da América Latina como Brasil e Peru. Outro campo de atuação importante
eram as práticas no Escritório que ajudou no reconhecimento do papel mediador
do Estado para normativizar as relações entre o capital e o trabalhador. Por
fim, pode-se perceber a grande influência que a escola de Serviço Social
chilena teve sobre o continente, pois foram através de suas protoformas que se
desenvolveram escolas de Serviço Social em outros países.
No Brasil assim como em
quase todos os outros países o surgimento da profissão está ligada no interior
do movimento de classes sociais, pelas mudanças no Estado e pela estratégia
desenvolvida pela Igreja Católica. Nesse país a Igreja manteve uma forte influência
na formação dos primeiros profissionais da assistência que entre outras escolas
criou o CEAS (Centro de Estudos e Ação Social) sendo que este foi criado com o
real objetivo de fazer retornar a Igreja sua influência e seus privilégios,
buscando também tornar mais eficiente à atuação de tais profissionais. O CEAS
foi considerado nas palavras de CASTRO:
como o vestíbulo da profissionalização
do Serviço Social no Brasil (...) o
trabalho de organização e preparação dos leigos se apóia numa base social
feminina de origem burguesa respaldada por assistentes sociais belgas, que
ofereceram sua experiência para possibilitar a fundação da primeira escola
católica de Serviço Social. (CASTRO,
1984, p. 96)
Pouco tempo depois foi
criado a Escola de Serviço Social de São Paulo também ligada a Igreja católica
inspirada especialmente pela Ação Católica e pela Ação Social. As funções dos assistentes
sociais nesse período junto às famílias operárias eram segundo CASTRO (1984, p.
99) “em face do matrimônio, educação e do cuidado dos filhos, da destinação do
salário, dos menores delinqüentes, da segurança social dos enfermos –
tratava-se de uma atividade para reformar e melhorar costumes.” Outro fato
importante de se observar é que por as jovens assistentes estarem diretamente
ligadas aos poderosos isso possibilitava a elas dar uma maior ajuda aos
“necessitados” da assistência.
Num curto espaço de
tempo surge o Instituto de Educação Familiar e Social, formado por duas
escolas: uma de Serviço Social e a outra de Educação Familiar. A fundação das
escolas foi patrocinada pelo Grupo de Ação Social, pela Escola de Enfermagem
Ana Nery e pelo Juizado de Menores. Assim, pode-se perceber que houve também
uma forte influência da saúde na assistência.
Ainda nesse contexto
havia uma atitude que vinculava o trabalho dos leigos aos preceitos da
encíclica e é sob essa inspiração que emerge no Rio de Janeiro a primeira
escola católica de educação superior para o Serviço Social que em conjunto com
São Paulo serviram de inspiração para surgirem outras por todo o país. Segundo
Manrique nos dois países (Chile e Brasil) apesar das diferenças:
o Serviço Social surge como
resposta à questão social e, em particular, à presença do movimento operário e
popular, estimulados por contingentes que desenvolviam uma ativa prática de
apostolado católico, provenientes das classes dominantes. E nos dois casos,
igualmente, o surgimento do Serviço Social recebe o auxílio de mãos belgas. (CASTRO, 1984, p. 102-103)
No
Peru houve mudanças que marcaram para sempre sua história. Em 1937, pela Lei nº
8530, foi criada a Escola de Serviço Social do Peru, no regime de Benavides. A
criação desta escola não é similar a de outros países, pois segundo CASTRO
(1984, p.110) “não se insere num processo de modernização capitalista liderado
por burguesias combativas que se aliam com segmentos populares, polarizando a
mobilização antioligárquica.” Assim a escola de Serviço Social no Peru nasce
sobre uma base burguesa em pleno processo de configuração. Ela surge quase que
ao mesmo tempo e vinculada ao Ministério da Saúde Pública, Trabalho e Previsão
Social. No entanto segundo CASTRO (1984, p. 112) “a ESSP não foi propriamente a
primeira escola de Serviço Social.”
A
profissão nos seus primeiros anos estava ligada a saúde com a qual colaborava
no combate das deploráveis condições de salubridade pública. Nas palavras de CASTRO
(1984, p. 119) pode-se visualizar como era composta essa escola: “um seleto
contingente de alunas, educadas nos ‘melhores’ colégios de Lima, com sólida
formação católica, vocacionadas para servir ao próximo e ansiosas para colocar
em prática as suas convicções morais e atuar no meio popular.” Sua tarefa era
contribuir para formar uma consciência que fosse passivo as diferenças de
classe como resultado de uma ordem natural, controlando assim, a influência de
idéias ameaçadoras para a religião e o Estado. Nesta escola assim como em
Elvira Matte Cruchaga no Chile, a assistência era mais uma vocação que uma
profissão.
Podem-se
concluir os seguintes aspectos que o Serviço Social enquanto profissão nasce ligada
a Igreja e a questão social, exceto no caso do Peru que só depois toma essa
perspectiva. No geral o Serviço Social encontrou dificuldades de sair das suas
protoformas primárias, mas com o avanço da profissão puderam reformular e
inovar em protoformas que atendessem as novas necessidades postas na sociedade.
TRABALHO ESCRITO POR ANA KERCY FARIAS, COM BASE NAS SEGUINTES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CASTRO,
Manuel Manrique. História do Serviço
Social na América Latina. Tradução de Jóse Paulo Netto e Balkys Villalobos.
São Paulo: Cortez, 1984. p 61-125.
MARTINELLI,
Maria Lúcia. Serviço Social:
identidade e alienação. São Paulo: Cortez, 1989. p 44-58.
NETTO, José Paulo. Capitalismo Monopolista e Serviço Social.
São Paulo: Cortez, 1992. p 13-77.
Nenhum comentário:
Postar um comentário